Nesta semana, o grupo de estudantes do 8º ano do Ensino Fundamental Anos Finais iniciou seus estudos sobre os aspectos demográficos do Continente Americano. Este objeto do conhecimento, assim como outros em Geografia, é repleto de informações estatísticas e representações gráficas, que podem homogeneizar a visão de uma população ou condicioná-la a uma única forma de pensar sobre esses dados, não contemplando, assim, a pluralidade das existências, narrativas e histórias.

Na perspectiva de romper com uma possível visão unilateral dos dados, surge a necessidade de apresentar aos estudantes inesianos o texto e a apresentação no TedTalk (Tecnology, Entertainment and Design) da escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, intitulados “O Perigo de Uma História Única”. Em seus registros, Chimamanda trata do perigo da história única em referência à construção do estereótipo dos lugares e das pessoas, numa visão de construção cultural e de deturpação de identidades. Ela aborda também o risco de se criar um determinismo quando assumimos uma única narrativa, uma única fonte, uma única forma de se contar histórias, de se considerar como verdadeiras as informações mais publicadas ou contadas sobre algum aspecto do mundo.

As falas de Chimamanda abrem a perspectiva para a compreensão da diferença do tratamento dado, por exemplo, ao continente africano e a seus diferentes habitantes pelo olhar ocidental homogeneizador.  Elas também tratam da imersão na criação contínua de estereótipos e na discriminação das identidades culturais, que foram reduzidas e reproduzidas por inúmeros e diferentes instrumentos de controle, como os dados estatísticos de sua população.

Cabe sempre pensarmos nos seguintes temas: Para quem esses dados servem? Que realidades eles destacam? Que histórias escondem? Em um país de índice de desenvolvimento humano (IDH) elevado, não há violência? Não há racismo? Todos os habitantes vivem em casas luxuosas e frequentam boas instituições de ensino?

O estudo da Geografia, em conjunto com a abordagem proposta por Chimamanda, amplia a visão e permite que o estudante possa explorar outras formas de ler as informações da Geografia e do mundo, além de ampliar seu repertório e escapar dos determinismos criados pela sociedade. Não significa, com isso, que os dados, mapas e gráficos não servem, mas que é preciso construir a criticidade para interpretar informações sob diferentes perspectivas. Assim, o estudante inesiano se constrói como sujeito do mundo, com muitas possibilidades para lê-lo pela sua complexidade e subjetividade.

Bruno Peres, professor