Mais do que nunca, este é o momento para pensarmos sobre a importância do cuidado. Neste início de ano letivo, as orientações governamentais sobre abertura ou fechamento de escolas têm oscilado de forma muito intensa, ora abre, ora fecha. Escolas, famílias e crianças preparam-se para diferentes cenários, e esse preparo exige muito de todos, não temos dúvida disso. Nem sempre temos tempo para elaborar tantas mudanças. Precisamos nos ajudar e nos apoiar. Não está fácil para ninguém. Esta semana, novamente, a escola precisou fechar as suas portas e não receber, por um tempo, aqueles que justificam a sua existência – os estudantes e os professores. Como é a vida das crianças sem a possibilidade de estar na escola? Como fica a vida das famílias, precisando ter seus filhos em casa num período que não é o de férias? Um tanto da experiência do ano passado nos ajuda a pensar caminhos e estratégias para esse desafio imenso. Algumas famílias buscam, na experiência vivida, formas de se organizar. Por outro lado, para outras famílias, é justamente a experiência do ano passado que faz necessário inventarem outras maneiras de resolver essa equação tão complexa. Além disso, temos ainda algumas famílias para quem essa realidade inaugura-se este ano.  Desde já, colocamo-nos à disposição para pensarmos, juntos, alternativas. Contem sempre com a equipe da escola. 

Sem dúvida, apesar das vivências do último ano, estamos em um novo período, com novos e antigos desafios. Precisamos seguir sendo criativos e inventando muitas possibilidades, cada um as suas, as que são possíveis para a sua família, na sua casa, com sua realidade, suas possibilidades e seus recursos, especialmente os psíquicos. Desde a Classe Bebê até o último ano do Ensino Médio, as famílias estão recebendo orientações atualizadas sobre atividades para realizar em casa, durante os estudos domiciliares. Talvez algumas famílias ainda nem tenham conseguido olhar com atenção para essas orientações, afinal, com tantas mudanças, ter de se organizar e se adaptar à rotina não é nada simples. Outras famílias provavelmente já estão tentando implementar esse novo hábito e, possivelmente, estejam encontrando algumas dificuldades. 

Por mais que cada um de nós tenha feito o seu melhor a fim de explicar para as crianças o que está acontecendo com o nosso planeta, e mesmo muitas crianças e adolescentes compreendendo realmente o que se passa, não é fácil. A situação atual aciona medos, inseguranças e fragilidades que precisam ser acolhidas pelos adultos, que também sofrem pelo que acontece. Este é um momento importante de acolhimento, escuta e conexão. Mudanças e adaptações necessitam de tempo e investimento, elas não são automáticas.

Estar em casa e não estar de férias não é nada simples. Estar em casa, mas os pais estarem trabalhando, também não. Estar em casa com os filhos e não poder contar com a sua rede de apoio (avós, familiares, funcionários e escola) é bastante complexo. Entretanto, pode não ser impossível! Se pudermos ser pacientes, tolerantes, resilientes e criativos, perceberemos que é possível que cada um invente o seu jeito de fazer isso. É fundamental que possamos respeitar o tempo de cada um. Nossas crianças e nossos adolescentes, antes de mais nada, precisam de colo, carinho, paciência e respeito, assim como nós. É essencial que as crianças possam brincar muito, afinal essa é a melhor forma de expressão e elaboração que podemos oferecer para elas. O brincar organiza e constitui, é o que de mais sadio elas podem fazer. Desenhar, escrever e ter contato virtual com os pares são ações que também favorecem a saúde mental de nossas crianças e nossos adolescentes.

Neste recomeço, sugiro que as famílias iniciem tentando organizar uma rotina em casa. Se possível, que as crianças efetivamente participem dessa organização. Sabemos que, quando crianças e adolescentes sentem-se importantes e acolhidos em suas necessidades, tendem a colaborar de forma mais efetiva. As orientações dadas pelos professores são um belo começo, entendendo que muitos ajustes ainda precisarão ser feitos nos próximos dias. Nessa organização, é fundamental que se considerem os tempos e a rotina da casa, a disponibilidade dos adultos com seus compromissos, as demandas e orientações da escola e o tempo do brincar, do lazer e da diversão. 

Proponho que possamos ser bem tolerantes e respeitosos com as nossas possibilidades neste começo. Muitos dias podem não sair exatamente como planejamos, mas tudo bem. Cobranças e sentimentos de que não estamos dando conta não nos ajudam muito. Investir em diálogo, parceria, trocas, apoio, ajustes e, se possível, um pouco de humor e leveza pode ajudar muito! Este é o momento de compartilhar, se conectar e se ajudar. Quem sabe, essas estarão entre as maiores aprendizagens desta crise!

Por Renata Gonçalves Prosdocimi, Psicóloga Escolar

A especialista está à disposição das famílias inesianas para escuta, compartilhamento de dúvidas, orientações e sugestões de temas que possam ser abordados neste período através do e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..